Um blog sobre livros, personagens, enredos e pensamentos soltos. O leitor pode ainda encontrar ideias para novas leituras.
Sou professor Dr. em Farmacologia. No entanto, começo agora, já com meus 38 anos o caminho para o sacerdócio. Um caminho longo, mas de muita alegria.
Este é um
belo livro. Um tanto quanto místico, sendo que, evidentemente, os que gostam de
uma leitura mais espiritual, centrada nas características misteriosas e divinas que
envolveram a vida deste Santo, irão gostar muito.
A história
de João Paulo II desde seu nascimento é longa. Logo, se impõe ao autor uma
maneira de deixar o leitor mais confortável. Simplesmente seguir a ordem
cronológica dos acontecimentos seria enfadonho. Allegri então não seguiu uma
ordem, mas temas.
Abordou, os
números do papado, o terceiro segredo de Fátima e sua possível relação com o
Sumo Pontífice, a questão da segunda guerra e depois o comunismo na Polônia.O encontro com o Padre Pio e sua
profecia sobre o futuro papa, a questão da austeridade em que o então padre
vivia, a vida como professor, como ator, o movimento com os jovens, as viagens
de caiaque pelos lagos com os jovens, escondidos dos comunistas, o Concílio
Vaticano II e sua eleição.
Posteriormente,
o autor não foca nas inúmeras viagens, no comunismo, e nas questões polícias e
econômicas. Detém-se nas coisas místicas que ocorreram em seu pontificado após
o atentado.
Como setembro é o mês de aniversário de um dos
maiores gênios musicais que o mundo já viu, me propus dedicar um post a ele.
Mais do que a simples leitura, peço ao leitor que também escute um pouco de
sua obra (abaixo).
Gould aprendeu piano com sua mãe. Com dez anos já
cursava o Royal Conservatory of Music em Toronto, no Canadá. Sua primeira
apresentação foi em 1945, com 13 anos. Em suas gravações não é incomum encontrar sua voz percorrendo a melodia. Ele também usava o mesmo banquinho de criança para tocar. Coisas de um excêntrico.
Gleen Gould
Sem dúvida alguma, sua maior contribuição foi sua gravação das 30 variações de Goldberg, de Jhohann Sebastian Bach
(1685-1750). Elas foram escritas por Bach em 1741, para o Conde Hermann
Conde Keyserling
Karl Von
Keyserling. Feitas inicialmente para cravo, foram executadas para o conde por
Johann Gottlieb Goldberg (1721 – 1756).
Goldberg
As variações de Goldberg podem ser ouvidas em
todos os filmes da tetralogia Hannibal. Em um episódio do seriado Hannibal, o
personagem toca os primeiros acordes em um cravo. Já no filme de 2000 o ator
Antony Hopkins aparece tocando as primeiras variações ao piano.
Gould morreu jovem, em 1982, vítima de um acidente
vascular encefálico hemorrágico.
Primeiramente considerada uma obra autobiográfica
escrita pelo próprio Henri Charrière e eleita
como uma das melhores histórias de aventura já contadas.
Acredita-se que através
de estudos realizados recentemente as fugas e as aventuras
foram na
verdade uma compilação feita por Charrière, das protagonizadas por seus
conhecidos de prisão. Além disso, existe a versão de que o autor se apropriou
da história de René Belbenoite.
Realizei a leitura em 1997 quando me preparava para prestar vestibular na UFSM para o
curso de Farmácia (22 por vaga na época). A obra ajudou-me
a organizar meus estudos, pois me identifiquei
com o personagem em alguns aspectos. Tinha uma rotina de estudos que, salvo o
horário de alimentação, observava uma hora de
leitura e dez minutos de sono, permanecendo mais
de dez horas em um quarto de pensão para estudar.Tudo
era muito regrado,
como se fosse realmente uma espécie de prisão. Ajudou-me muito também na época, meu
companheiro de quarto, que já iniciava o curso de medicina e hoje,
é médico radiologista de muito prestígio (Dr. Rômulo Tonon).
Segundo Charrière, este fora preso injustamente
por assassinato, na França da década de trinta e posteriormente enviado para a Guiana Francesa. O
início da história é um pouco arrastado, mas ajuda o leitor a entrar no clima, quando o apenado, em prisão provisória, caminha de um
lado a outro na cela, pensando em sua situação.
Papillon era assim chamado devido a uma borboleta tatuada
no peito. Havia várias prisões na Guiana
Francesa, em várias ilhas da península. Papillon fez
várias tentativas de fuga da prisão e a mais
interessante foi quando alcançou uma colônia de
leprosos. Acabou sendo preso novamente e aí foi levado
para a Ilha do Diabo, da qual ninguém jamais
Ilha do Diabo - Guiana Francesa
havia escapado, tendo em vista os
rochedos e as ondas investindo contra estes com fúria.
Papillon virou um mito na Guiana, de tal forma que os guardas o respeitavam. Charrière
chegou a ficar anos em uma solitária e acabou sobrevivendo por que recebia um coco de quando em quando, desviado por um guarda. Também
comia baratas. Em cada fuga, sua pena sofria um
acréscimo. Então o leitor começa a pensar que ele realmente nunca sairia de lá.
Considero este
livro um daqueles que todos têm a obrigação de ler. O exemplar que li, da
década de 70, tinha 850 páginas e quando o fim se aproximava eu só fazia
lamentar, pois a história é muito boa, e nos faz torcer
pelo personagem. Também há o filme de 1973 com Steve McQueen e Dustin Hoffman.
Papillon ficou preso entre 1931-1945, quando
conseguiu escapar. Sua pena prescreveu em 1967 e o livro o fez milionário.
Todavia, morreu pobre em 1973, entregue à bebida, e de
câncer na garganta.
Quem gosta de ler obras de filosofia deve ter tido contato
com Sartre (1905 -1980). Este escritor francês, com ideais políticos expressos com suas ações, éconsiderado
filósofo representante do existencialismo.
confusão devido a um mundo sem
sentido e absurdo. São temas constantes a solidão, o tédio, o silêncio. Existe
um questionamento da existência humana, com ênfase no seu sentido e os atos
humanos em si e seus propósitos. Mas uma coisa é importante salientar, nem
todos estes filósofos existencialistas eram ateus. Dentre esses Kafka e
Dostoiévski.
Segundo Sartre, a existência precede a essência. Primeiro existimos, depois nos definimos como
essência e para
isso adquirimos pontos de vista e convicções.
Em 1964 Sartre ganhou o prêmio Nobel de literatura, que
recusou, causando escândalo
na academia sueca. “Nenhum ser humano deve virar uma instituição”.
Jornal da época comentando a recusa do prêmio Nobel.
A Náusea
foi seu primeiro livro, escrito em 1938, enquanto ainda lecionava, parando de fazê-lo em 1943. Este livro me foi indicado por um companheiro de apartamento na época do mestrado. Por
ser relativamente pequeno, achei que seria de rápida leitura. Equivoquei-me completamente.
Geralmente quem não
éfilósofo e consegue terminar este livro,
olha para mim com uma cara de ressaca, quando
comento que gostei da obra.
Sim, o livro é monótono, éescrito
na primeira pessoa, mas nos passa exatamente o
que éo
existencialismo. O protagonista, historiador, chamado Antoine Roquentin, estáem uma cidade estranha para escrever uma biografia.
Com o desenrolar da história
o personagem começa
a sentir um vazio existencial, tédio
e uma sensação de
que o ser humano existe sem grandes objetivos ou com objetivos absurdos, chama
isso de “A náusea”.
O fato do livro ser
em primeira pessoa, nos dáa dimensão
do desespero sereno (se éque
isto existe) de Roquentin. O livro leva o leitor a pensar sobre a condição humana, seus
objetivos, sendo que juntamente com o personagem, acabamos vendo muitas atitudes
humanas sem sentido e lembramo-nos de quando
sentimos tédio.
Quando eu era uma criança
de seis anos e a corrida de F1 passava na TV, lembro de perguntar ao meu pai
quanto tempo ainda iria demorar, mas o fazia sóna expectativa de algo mais divertido para fazer,
pois sentia um tédio
enorme. “Ah, não tenho nada para
fazer”dizia.
Esta obra fez-me lembrar desta sensação, que volta e meia me acompanha.
Assim, pensamos todos na existência,
pelo menos em algum momento da vida. Os absurdos dos ataques terroristas nos levam a pensar como filósofos existencialistas, pois qual será o objetivo
da vida humana, e das atitudes humanas. Eis o existencialismo.
Agradeço imensamente ao professor Dr. Sydney Hartz Alves (professor da UFSM e paraninfo de minha turma), por esta generosa colaboração com este Blog e torço para que venham muitas mais. As colaborações são muito importantes.
O Brasil de Gógol
Nikolai Gógol
Nikolai Gógol, escritor russo do
século XIX (1809-1852) foi um dos melhores representantes do realismo e tem em
“Almas Mortas” sua obra-prima. Apesar de inacabada, o volumoso romance,
ambientado no interior da Rússia imperial, tem como herói Pável Tchitchicov.
Gógol nunca esteve no Brasil! Mas a “brasilidade“ de seu romance está na
contemporaneidade com certas práticas sociais bem atuais no Brasil. Na Rússia
do século XIX, o regime de servidão contrastava com o afrancesamento das
classes abastadas; o Serviço Público era a matriz da ocupação da classe média,
mas é na corrupção generalizada desta sociedade agonizante que enxergamos o
primeiro ponto em comum com o Brasil atual. Tchitchicov, o herói-malandro,
comprava servos já falecidos (as almas mortas) para auferir lucros na
colonização de espaços vazios daquele gigante império; o governo pagaria com
base na documentação da posse de tais servos, de fato, inexistentes.
Apesar da comicidade e saborosa leitura, o pano de fundo é a tramóia, a propina,
o escamoteamento. Em toda obra só aparecem dois indivíduos honestos, isto que
nos romances russos há dezenas de personagens. O primeiro destes honestos é
Constangioglio, que é citado como não russo, deixando o leitor concluir que
fosse italiano; é bem disposto, trabalhador, honesto e, vê no trabalho rural a
mão divina que altera as estações do ano;
sua propriedade rural é exemplar. Queria
Gógol nos dizer que entre russos não haveria homem com honestas relações com o
trabalho? O segundo personagem honesto é o velho Murázov, que imbuído de grande
bondade e abraçando a religião, recupera alguns degenerados; sugerindo que
entre os mais religiosos ainda se encontravam pessoas de bons princípios.
Um segundo ponto comum com o Brasil, pode ser detectado em certas
similaridades com Machado de Assis. O patrono brasileiro deve ter bebido na
fonte de Gógol: a fina ironia, a comédia, o inusitado e o freqüente diálogo
entre autor e leitor, são traços comuns a estes dois magos do romance. Como
Gógol é mais velho, suspeito que Machado tenha se inspirado no russo.
Desconheço análises literárias fazendo esta relação, mas, se ainda não fizeram,
é um prato cheio para estudos acadêmicos.
Por fim, registro meu duplo pesar: meu idolatrado Machado de Assis ficou
menor e minha preocupação com os rumos que nossa “brasilidade” tomou! Queira
Deus e todos os santos do sincrético panteão religioso brasileiro que não
precisemos amargar as tempestades como aquelas que os russos viveram para que
endireitemos o país verde-amarelo. Gógol viveu na Rússia do século XIX, mas o
Brasil de Gógol, é o assustadoramente corrupto, Brasil atual.
Este livro me foi indicado por uma ex-aluna. Uma amiga agora, que gosta de ler e começou o curso de filosofia. Ser professor é ter estas coisas boas e interessantes, como conhecer pessoas que gostam de leitura e são bem avançadas até para sua idade. Obrigado Eduarda Brum Marquetto (Bast)
Primeiramente,
gostaria de chamar a atenção do leitor para o escritor. Dumas teve várias
características peculiares em sua vida. Apesar de ter morrido em 1870, somente
no bicentenário de sua morte foi sepultado
no panteão em Paris. Muitos não o sabem,
Túmulo no Panteão em Paris
mas Dumas era filho de um grande
militar e de uma escrava, sendo portanto mulato. Nesta questão, reside grande
parte do preconceito que ocorreu com ele, mesmo após sua morte. Outra questão
que provavelmente deve ter influenciado o sepultamento tardio junto aos grandes
escritores, foram as dívidas no final da vida, enlouquecendo os 153 credores.
Alexandre Dumas
Dumas
também teve muitos casos amorosos. Muitos. Teve quatro filhos, mas assumiu
somente dois, sendo um chamado de Alexandre Dumas filho, para evitar confusão.
Sobre a
obra, que achei fantástica, houve 10 filmes inspirados nela, sendo o primeiro
em 1918 e o último em 2002. Também foi feita uma série para a televisão em
1998. Além disso, o seriado “Revenge” (vingança), exibido no Brasil pela TV
GLOBO, foi inspirado no livro.
Resumidamente,
Edmond Dantès é preso injustamente em uma masmorra sem luz, através de um plano
arquitetado por um grupo de pessoas impregnadas de inveja. Lá, é esquecido pelo
procurador do rei propositalmente onde fica durante 14 anos, nos quais pensa
muito em tirar a própria vida. A história começa a
O encontro entre Edmond e o Padre.
mudar quando conhece um
padre (companheiro de masmorra, mas não de cela) e aprende muitos
conhecimentos: línguas, matemática, filosofia, esgrima. Quando consegue a
liberdade, descobre na Ilha de Monte Cristo um tesouro inestimável, com
diamantes e muito ouro. Mais uma ajuda de seu amigo padre.
Com
fisionomia diferente da antiga, devido ao cárcere, o evadido se infiltra na
alta sociedade parisiense e começa um plano muito arquitetado para se vingar de
seus algozes. Autointitula-se Conde de Monte Cristo.
O Conde à Direita
O livro é
enorme, a edição de 2008 (Editora Zahar) tem mais de meio quilo e 1376 páginas,
creio que devido ao modo de como foi publicado, em folhetins entre 1844 e 1846.
Este tipo de publicação também dá ao autor um “feedback” do público, o que
ajuda a lapidar o enredo. Também acredito que houve, por parte de Dumas e
Marquete, seu colaborador, uma boa edição, com bons cortes, uma vez que a
história do Conde no Oriente onde conhece uma bela grega, não aparece na obra.
Destaco
algumas marcações que fiz na obra:
“- É
típico dos espíritos fracos verem todas as coisas através do luto. É a alma que
desenha por si só seus horizontes. Sua alma está escura, é ela que lhe impõe um
céu tempestuoso.”
“ … não
existe nem felicidade nem infelicidade neste mundo, existe a comparação de uma
com a outra, só isso. Apenas aquele que atravessou o extremo infortúnio está
apto a sentir a extrema felicidade. É preciso ter desejado morrer, Maximilien,
para saber como é bom viver.”
“As
feridas morais têm essa particularidade: elas se escondem, mas não se fecham.
Sempre dolorosas, prontas a sangrar quando tocadas, elas permanecem vivas e
abertas no coração.”
A que eu
mais gosto (com um tom de ironia de Dumas):
“Enfim, uma
aplicação do ditado: Finge valorizar-te e serás valorizado, que é cem vezes
mais útil em nossa sociedade que o ditado grego: Conhece-te a ti mesmo,
substituído em nossos dias pela arte menos difícil e mais vantajosa de conhecer
os outros.”
Por fim,
ressalto a última frase do livro: “esperar e ter esperança”.
É um
romance, uma aventura, uma história de vingança, mas sobretudo, uma história de
resiliência e perseverança.
Neste post apresento a execução da música intitulada "And The Waltz Goes on" de autoria de Antony Hopkins, escrita há 50 anos (ganhador do óscar pela atuação em Hannibal).
Castelo de André Rieu
Hopkins é um bom músico e pianista. Já André Rieu não precisa de grandes apresentações, possui uma orquestra própria, a qual, a partir de um telefonema se apresenta para o ensaio em seu castelo (Castelo de Torentejes), local onde mora, em Maastricht, Holanda.
É uma música emocionante. São músicas como esta que elevam a alma.
Pensei bastante antes de
escrever sobre este livro, pois é bastante polêmico. O autor
é muito bom e bem conhecido, um vaticanista e correspondente
alemão no Vaticano. Acompanhou o dia-a-dia de diversos papas, entre eles Bento
XVI. É um dos jornalistas presentes na sala de imprensa quando Padre Lombardi promove as coletivas, levando as informações sobre a Santa Sé para o mundo,
como também o faz a brasileira Ilze Scamparini da Rede Globo.
Pois bem, o livro foi lançado logo
após e rapidamente após a renúncia
de Bento XVI e discorre basicamente sobre os acontecimentos políticos internos
da cúria romana que levaram, supostamente, ao acontecido. Sou católico, espectador de
documentários sobre papas e o Vaticano, além de ser um leitor vorás de tudo que se publica a
respeito. Já li três livros de Englisch e este considero o mais complicado para discorrer.
Segundo o autor, uma luta
de poder na Cúria (órgão responsável pela administração) atrapalhou as intensões do pontificado de Joseph Ratzinger, Bento XVI. Ainda segundo
o autor e concordando com ele, Ratzinger é uma pessoa doce e educada, com pouca
característica de imposição, como aqueles que gostam de delegar tarefas. E realmente, até os mais ferrenhos inimigos deste
Papa, sempre falam de sua timidez extrema (ver vídeo abaixo) e de sua educação.
Andreas atenta para essas características ao explicar que Bento XVI, cansado
dos escândalos internos, resolve abdicar ao posto.
No entanto, eu também acrescento que o agora Papa Emérito possui um aparelho de
assistência cardíaca (marcapasso), há mais de 10 anos, sem o
qual não poderia viver. Então, é cristalino que a idade também foi um fator
decisivo.
Durante o livro, Andreas
cita nome e sobrenome de cléricos que não o queriam lá. E escreve sobre o
“lobby gay” existente na Cúria e o chamado “Vatileaks”. Portanto, este é um livro que incomodou muitos católicos, mas não a mim. Conheço a Igreja Católica por dentro, há
muitos anos. Os homens nela, como eu, são falhos, mas Deus através do Espírito Santo, está sempre conosco. Além do mais, não será saindo da minha igreja que irei mudá-la.
Hans Küng
Finalizando, sobre querer
ou não querer ser Papa, Ratzinger jamais desejou sê-lo.
Pediu aposentadoria por idade e pela saúde frágil, três vezes a João Paulo II (passou por um derrame antes disso), que nunca aceitou estes
argumentos. Ele até proferiu uma
frase, depois de ser eleito, para amigos: “quando eu vi que a guilhotina iria
cair sobre minha cabeça eu rezei, mas obviamente, Ele não me escutou”. Exato, ser
Papa é uma escravidão.
Muitos pensam que “eles” têm de
tudo e, realmente, são bem assessorados, entretanto, não possuem o principal:
liberdade na hora mais necessária, na velhice. Ratzinger sempre quis escrever, (poderoso teólogo, junto de Hans Küng, seu oponente mais ferrenho,
enfrentando o fim da vida, devido ao Parkinson), escutar Mozart, Bach e tocar
seu piano, além de ter um gato,é claro, como era seu
costume. Afinal, foram mais de 35 anos servindo ao Vaticano. E os que o conheciam, diziam: “o sino da igreja de São Pedro pode atrasar,
mas não o padre Ratzinger”, que caminhava pela praça e ia ao seu escritório na cúria, quando ainda Cardeal.
Indicava muito esta obra para meus alunos quando ministrava algum conteúdo de toxicologia social, seja para os da psicologia como para as demais de outras áreas da saúde. Eu o li no verão de 2005.
Marian Keyes é uma escritora irlandesa que vem enchendo as livrarias por aqui. Depois de vencer o alcoolismo, começou a lançar um sucesso atrás de outro.
Eu li os dois primeiros livros publicados no Brasil, Melancia e Férias. Marian foi muito feliz em criar uma família um tanto quanto hilária para protagonizar a história. Em especial por Helen, uma adolescente sem "papas na língua".
Indicava o livro e o indico ainda, devido ao tema principal. Embora seja um romance, o enredo descreve a vida de Rachel, a qual abusava de drogas. Usava álcool e cocaína à noite, valium (diazepam) para dormir e novamente cocaína para acordar.
Após uma overdose (quando "faltou com a obrigação de acordar", após um frasco de valium), acompanhamos a trajetória da moça até uma clínica de reabilitação (apelidada de claustro). Foi convencida pela família. Rachel discorre sobre seu vício de maneira que até convence os leitores ter um consumo moderado e esporádico. Além disso, ela vai para "o claustro" pensando encontrar artistas de rock e outras celebridades, bem como saunas e piscinas.
A obra mostra o dia-a-dia no local, as sessões de terapia em grupo, conduzidas por uma irmã psicóloga chamada de Josephine. A escritora faz questão de destacar que tudo na obra é ficcional.
Ao ler os capítulos relacionado às sessões, acabei, inicialmente, por odiar a psicologa, pois ela era muito durona com os pacientes. No entanto, aos poucos, fui percebendo que os pacientes negavam tudo. Então a irmã levava a família e, lendo os depoimentos familiares, fiquei arrepiado com as peripécias de cada paciente. Então chega o ex de Rachel, isso me levou a compreender o nível de abuso químico que ela cometia, já muito antes do namoro. E negava, sobretudo para si mesma.
O livro contém romance, muito humor e a questão das drogas. Eu indico este livro para todos, pois ele ajuda a entender como a pessoa dependente esconde seu vício e o faz também por negação automática. Também auxilia em mostrar a importância da aceitação por parte do paciente e o apoio de sua família. Além, é claro, de ser uma bela obra e um livro leve, mesmo com este tema central.
No final do livro temos uma surpresa sobre a irmã Josephine, mas, evidentemente, não contarei essa parte.
Em um blog, li uma resenha onde o autor escreve que este livro não mostra a escrita de Marian como os demais. Eu comentei dizendo que provavelmente, a personagem Rachel tinha muito da Marian, devido à questão de sua dependência com o álcool e por isso, pouco da escrita característica.
A professora Jane, minha professora no ensino médio, disse que o livro fedia, e o fez em tom de brincadeira, claro. Quem leu o livro
Minissérie da Globo
sabe que a minissérie não faz justiça à obra de Veríssimo. Achei a ideia central do livro, um “insight” de gênio. Sempre achei a ironia, o sarcasmo, marcas em suas obras. Em especial quando falava das mazelas sociais, como a hipocrisia. Nesta obra temos uma cidade fictícia, mas próxima a São Borja, com duas famílias rivais e todo o necessário para se montar uma sociedade com suas moléstias: hipocrisia, rivalidade, inveja, fofoca, traições. A genialidade a que me refiro está no fato de um punhado de figurões falecerem e, devido a uma greve de coveiros, levantarem dos caixões e irem reclamar em praça pública. Até esse momento tudo bem, mas pensemos nós: quem melhor que um morto para dizer o que pensa sem sofrer por isso. Em outras palavras, qual o problema de contar uma traição em alto e bom som se você já está morto? Tecnicamente eles não estão mais na sociedade. Assim, a primeira parte descreve a cidade, com sua sociedade. A segunda parte do livro, descreve o evento fantástico de 13 de dezembro de 1963, que transforma os falecidos em mortos vivos que vão para a cidade e acabam por contar e discutir toda a hipocrisia social do local sem medo de represálias. Achei fantástico, foi um dos livros que precisei fechar para rir. Fico pensando se ocorresse hoje... O livro não nos remete ao mau odor somente pela putrefação dos cadáveres (que aliás ocorria naturalmente durante a nova “vida” dos mortos), mas também pelos “podres” da sociedade de Antares.
Certa vez, houve uma conversa minha com um Bispo Católico. Estávamos em seu escritório e discorríamos sobre assuntos diversos. Foi quando lhe contei que com 11 ou 13 anos fui convidado para ser sacerdote, que recusei, sentia o chamado para o sacerdócio, mas também sentia o chamado para o matrimônio. Disse-me o Bispo que com 27 eu poderia sê-lo ainda . Então discorri sobre minha vida, afinal já havia namorado, noivado, embora nunca tivesse casado.
Recomendou-me então que lesse Confissões, de Santo Agostinho. Agradeci a sugestão e comprei o livro. Tornamo-nos amigos. Trata-se de Dom Irineu Silvio Wilges , Agora Bispo Emérito de Cachoeira do Sul.
O livro foi escrito no século IV. É dividido em duas partes, sendo que a primeira relata sua vida desde a concepção até a conversão. Nessa parte temos um relato geral, os estudos “pagãos” e o interesse em filosofia. Depois estuda retórica e começa a seguir o maniqueísmo (doutrina que divide tudo entre o bem e o mau, Deus e o Diabo). Teve dois grandes relacionamentos, mas acabou por abandoná-los. Também foi professor de retórica. Experimentou um pouco de tudo na vida. Sua mãe, Santa Mônica, sempre rezava para o que o filho se convertesse ao Cristianismo e insistia para Agostinho fazê-lo.
Ao final do relato, o próprio Agostinho descreve o momento de sua conversão e passa então a viver em oração e a escrever. Sem dúvida alguma é um dos maiores doutores do Cristianismo. Foi Bispo também. O Papa Emérito Bento XVI (Joseph Ratzinger) é especializado em Agostinho.
O que senti neste livro é uma procura, por parte do autor, de um objetivo de vida, de um algo mais. E ele encontrou isso em sua conversão. Muitas vezes li Bento XVI dizendo que todo ser humano procura Deus, nasce com esta vontade. Esse livro ajuda a entender essa colocação de Bento XVI, pois foi o que Santo Agostinho acabou por fazer. E nós também. Uma conversão diária.
Da segunda parte do livro eu destaco o trecho onde ele fala sobre o passado, o futuro, o presente e a eternidade. Assunto que termina com uma explicação muito interessante sobre o que é o tempo para Deus.
"Na eternidade nada passa, tudo é presente, ao passo que o tempo nunca é todo presente."
Isso ajudou a mim entender o nome que Deus se deu: Jeová ou Javé (Eu sou aquele que é). Ou quando Jesus responde: “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou! (Jo 8:58)”.
Outro trecho interessantíssimo:
"Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? E se pelo nome de céu e terra se compreendem todas as criaturas, responderei sem hesitação: Antes de criar o céu e a terra, Deus não fazia nada. Pois, se tivesses feito alguma coisa, o que poderia ser, senão uma criatura?"
Isaacson não precisa de muita apresentação. Ele fez a famosa
biografia de Steven Jobs, que eu não consegui terminar. O fato é que
Isaacson, em minha opinião, exagera em detalhes que muitas vezes fazem o leitor
desejar avançar manualmente o capítulo, coisa que abomino.
Mas esta biografia de Einstein eu gostei muito. Ela foi construída a
partir das cartas trocadas entre ele e as personalidades do meio científico da
época, na maioria futuros laureados com o prêmio Nobel, como Max Planck, como Niels
Bohr e Marie Curie. Também há cartas trocadas entre ele e sua mulher, Mileva
(que era manca), além de sua amante, Elsa.
Fiquei impressionado com a quantidade de cartas trocadas
diariamente. Certamente muito maior que os e-mails, que trocamos atualmente. E
mesmo quem não gosta de física (o que não é o meu caso), acaba por se render às
explicações do autor sobre as descobertas iniciais dessa mente prodigiosa.
Não
conseguindo emprego, foi trabalhar em uma empresa de patentes e em seu
escritório, em casa, fora de horário, escreveu os primeiros artigos sobre a
teoria da relatividade.
Neste livro aprendemos que Einstein era uma pessoa de vida
comum, com vida social agradável (adorava serões e jantares), com problemas
familiares (um filho Esquizofrênico, outra filha da qual não se tem notícia) e
sobretudo, uma história de amor, pela física e por sua prima Elsa. Isso desmistifica um pouco a vida desse grande cientista. Uma característica curiosa, ele era um grande questionador das autoridades, o que lhe rendeu problemas com seus professores.
Fato interessante, provavelmente pouco conhecido, é o caso de seu divórcio com Mileva. Para conseguir consentimento desta, ofereceu o dinheiro do prêmio
Nobel, mesmo sem tê-lo ainda não havia ganho. Quando contemplado, mandou prontamente o dinheiro para ela.
Em relação à religião, flertou com várias, mas acabou por
acreditar em um Deus com características que ele mesmo definiu. Assim, não era
ateu como se diz.
O livro também discorre sobre uma coisa um tanto quanto bizarra. Após sua morte
(aneurisma de aorta), seu cérebro foi retirado e repartido para estudo,
evidentemente sem consentimento. O que se descobriu? O cérebro normal de um senhor de 75 anos. Creio que sua genialidade é fruto de sua mente, não de sua neurofisiologia.